A arte de Alex Gross pode ser classificada como aquilo a que normalmente
chamamos “uma verdadeira salada russa”. Com um toque de elementos
tradicionais e uma pitada de inspiração contemporânea, as suas pinturas
são recheadas de imagens coloridas onde ícones míticos e religiosos,
publicidade vintage, arte retro japonesa e referências pop de grandes
marcas do consumismo actual se misturam, criando um mundo fantasioso
mas, ao mesmo tempo, realista.
A série de trabalhos “Discrepâncias” de Alex Gross é apaixonante: um
verdadeiro “banho de cor visual” à primeira vista. Encanta os olhos e
desperta a mente. E logo nos primeiros segundos reparamos também nas
muitas contradições das suas pinturas.
Mas afinal o que é que telemóveis de última geração
fazem na mão de personagens com várias décadas? E porque é que dos seus
olhos saltam cobras? E porque se faz publicidade de várias marcas, todas
ao mesmo tempo?
Nascido em 1968 em Nova Iorque, Gross estudou no Art Center Collage
of Design, na Califórnia, onde vive e trabalha actualmente. Em 2000, com
a oferta de uma bolsa da Fundação Japão, passou dois meses a viajar
pelo país. Daí vem a influência da cultura japonesa nas suas obras.
Durante esse tempo, foi recolhendo e coleccionando várias imagens de
arte e cartazes publicitários de estilo oriental. Essa colecção,
“Belezas Japonesas” foi publicada em 2004 pela conhecida editora
Taschen.
O artista é hoje conhecido como um dos nomes mais importantes do
“surrealismo pop”. Feitas a óleo, as suas pinturas criam um ambiente que
oscila entre o bizarro e o onírico. A mistura de elementos tradicionais
com elementos modernos, que aparentemente nada têm em comum, é a sua
principal característica. Alex parece escolher exactamente cada pormenor
para cada imagem. Como se de uma colagem se tratasse, ele encaixa e
mistura as duas realidades. E essa combinação resulta afinal num mundo
encantado de fantasia ou numa visão contemporânea da sociedade?
As várias justaposições de marcas e produtos do consumismo actual
estão presentes em muitas obras. A verdade é que nos cruzamos
diariamente com “estas personagens”. Dos pés à cabeça, fazemos uma
viagem pelas etiquetas e símbolos bem visíveis de sapatos e malas caros,
camisolas e vestidos, sem falar de telefones topo de gama.
“Discrepâncias”
fala da comunicação, ou melhor, da falta dela, numa encenação da vida
quotidiana de cada um, refere Alex Gross. Onde também, como num qualquer
reality-show, todos estão de olhos postos em nós, prontos a espreitar
pelo buraco da fechadura. O avanço da tecnologia e das “respectivas
caixinhas mágicas” ao longo dos tempos foram os grandes responsáveis. E o
tempo é precisamente outro dos temas implícitos.
Numa das suas peças favoritas, o cenário é o seguinte: duas
raparigas, numa estrada, numa mota. Ambas parecem iguais, mas as suas
caras são diferentes. Pois, é que afinal elas são ela, ou seja, são a
mesma pessoa. Na juventude e já na velhice. A estrada não representa
mais do que o caminho que todos percorremos e ao qual estamos
destinados, vamos envelhecendo. E o aniversário, se calhar com muitos
balões enquanto crianças, se torna a melhor ou pior lembrança dessa
mesma passagem.
Tudo regado com pormenores retro e vintage, com um molho especial de
subversão e ironia, tornam esta série bela e inquietante ao mesmo tempo.
Os trabalhos de Gross podem ser vistos em diversas galerias e museus
pelo Mundo. Alguns deles foram também usados em publicações de revistas e
capas de álbuns e livros. Em 2007, o “Grand California State Fullerton
Central Art Center” realizou uma exposição retrospectiva de toda a sua
carreira.
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